Razões da Pesquisa Geológica

A Geologia Estratigráfica ou Histórica é o resultado de uma pesquisa iniciada em 1965 e desenvolvida ao longo de mais de quarenta anos, parte desses dentro dos arquivos técnicos da Petrobras, a estatal brasileira de petróleo, e seus resultados serão relatados a seguir. Tentaremos popularizar a ciência geológica e mostrar que existem novidades no campo desta ciência, ou seja, queremos afirmar que muitos dos nossos paradigmas científicos estão, naturalmente, desatualizados.

Aprovado em concurso para a Petrobras, em 1960, chegamos à Bahia, em 1961, para fazer um curso de geologia no antigo CENAP em convênio com a Universidade Federal da Bahia. Formado em 1962, em 1963 iniciamos o primeiro estágio em trabalhos de campo mapeando em escala de detalhe a Bacia de Jatobá. 

Durante o curso de Geologia percebemos a importância das atribuições do geólogo, e durante os primeiros anos no campo achamos difícil o trabalho de mapear, e as minhas inquietações começaram. No campo, não conseguíamos perceber ou enxergar as “falhas”, as “formações” e muito menos os contatos entre elas, que apareciam nos mapas anteriormente feitos, ou seja, nos mapas os contatos e as falhas eram extraordinariamente claros e fáceis de ver. No campo, as coisas mudavam de figura.

Apelamos para a ajuda dos supervisores, e as inquietações aumentaram porque constatamos que eles, também, não sabiam as respostas para os problemas da geologia.

Após o estágio em trabalhos de mapeamento de superfície passamos aos da subsuperfície, acompanhando a construção dos poços que estavam sendo feitos na Bacia em busca do petróleo. 

Verificamos, de novo, que os fatos geológicos da subsuperfície eram tão inexplicáveis e misteriosos quanto os fatos existentes no mapeamento da superfície. Ninguém sabia onde ficavam as “formações” da subsuperfície. Eram misteriosos os contatos entre elas. Como saber ou como distinguir as “formações” Ilhas, Candeias, Sergi e Aliança?

Apelavamos para a ajuda da paleontologia, mas a ajuda causava mais confusão do que esclarecia, e para “salvar” a mencionada confusão nós, os geólogos, lançávamos mão das “falhas” que apareciam às dezenas e que se tornaram incontáveis em toda a Bacia. As profundidades dos poços e a espessura das formações, que eram baseadas nos estudos geofísicos eram tão erradas quanto as previsões geológicas e paleontológicas. Diante de tanta confusão e coisas erradas, como se conseguia achar petróleo? 

Passamos a desconfiar que havia um problema a resolver sobre os fatos geológicos vistos no campo, que ainda não compreendera qual seria, mas tivemos certeza que o tal problema era de todos, inclusive das chefias, e foi um alívio perceber que não era só nosso! Ora, se todos errávamos juntos, ninguém poderia recriminar ou corrigir ninguém

Aparentemente, a culpada de tanta confusão era a própria Geologia. Não era uma ciência que se praticava, mas um mundo de crendices e sonhos, e que era permissiva. A maneira de resolver os problemas é que era estranha. Não se sabe a resposta? “Chuta-se” qualquer coisa. Não deu certo? “Cria-se” uma falha ou quantas fossem necessárias e tantas outras soluções sem pé nem cabeça, especialmente porque os supervisores não podiam contestar se as respostas estavam certas ou erradas. Eles também “chutavam” porque não sabiam. Eles foram, de verdade, os precursores desse método de estudar geologia. Os paleontólogos por sua vez tentavam “acochambrar” os resultados obtidos lançando mão de teorias inusitadas.

Não era uma ciência que se praticava. Era uma aventura que envolvia muito dinheiro, e não havia quem pudesse solucionar os problemas que se apresentavam a cada poço construído.

A Geologia não era uma Ciência e até hoje não é, tanto na Petrobras quanto nas universidades e demais empresas de petróleo e mineração.

Decidimos, então, fazer uma pesquisa por conta própria. Não foi uma ordem da chefia, mas uma decisão pessoal que teve muitas consequências negativas para o pesquisador. 

Iniciada de forma independente, sem uma metodologia definida, selecionamos um campo de petróleo já existente, organizamos seus poços por data e passamos a estudar, desde os prospectos até seu relatório final, apenas tomando nota dos seus motivos da locação, até seus resultados finais, comparando as previsões e resultados alcançados. Fizemos isto em dezenas de poços, mais adiante, em centenas deles, até que pudéssemos vislumbrar uma resposta às nossas dúvidas.

 

MÉTODO DE TRABALHO

Como dissemos, parte da pesquisa foi feita nos arquivos técnicos da Petrobras, e incluiu as pastas de centenas de poços, desde os seus prospectos até os relatórios finais de cada um deles, verificação das amostras de calha, todos os testemunhos cortados em cada poço, abrindo caixa por caixa nos barracões de Mata de São João e Candeias, onde eles estão arquivados.

Revimos os relatórios dos trabalhos da paleontologia, de toda a geofísica, incluindo os da sísmica, gravimetria, perfis elétricos e toda a parte da hidrodinâmica, acompanhando testes de formação e analisando seus resultados. Sobrevoamos quase todo o território nacional em avião especial do chamado Projeto RADAM e percorremos milhares de km de estradas de norte a sul do Brasil fazendo experiências sobre a estratigrafia das rochas que compõem o território nacional e em outras partes do mundo em viagens turísticas.

Com tanto trabalho de observação as ideias foram surgindo, novas ideias, absolutamente novas, que deram origem ao que chamamos de Geologia Estratigráfica ou Histórica. O estudo minucioso da Paleontologia esclareceu, elucidou, iluminou e definiu a causa de tantos erros e confusões: 

os fósseis dentro do volume da bacia são refossilizações e são evidencias claras do momento exato da ocorrência do fenômeno maior que foi a transmigração continental, assunto que será detalhado em outra parte deste trabalho. 

Tal trabalho de pesquisa praticamente já terminou, mas ele continua a ser verificado no campo até hoje, desde os anos 60 do século passado, como disse anteriormente. Adiante veremos o resultado de todo o trabalho.

 

QUE SE PRETENDE COM ISSO?

Nossa pretensão ao apresentar este relatório é contribuir com sugestões para:

1. Um currículo escolar para um novo curso de Geologia consentâneo com a sua finalidade: ensinar como FAZER MAPAS GEOLÓGICOS CORRETOS para poder programar investimentos privados e governamentais na busca de riquezas. Os cursos de geologia no Brasil não têm qualquer semelhança entre si, são autônomos e nenhum ensina a mapear.

2. Dar conhecimento aos investidores nos negócios de petróleo daquilo que se tem de fazer para obter êxito RÁPIDO, FÁCIL e BARATO na pesquisa dessa substância. O método atualmente em voga é incompatível com a finalidade desde que é incompatível com os fatos da natureza e por isso difícil e antieconômico

3. Também, e especialmente, queremos sugerir novos caminhos à economia governamental, através da prática de uma política baseada em uma economia amparada em consumo de petróleo.

Dissemos acima que essas são as nossas pretensões. Vejamos nossas razões rememorando, a voo de pássaro, a história recente do Brasil desde o último quarto do século passado, sob o ponto de vista do petróleo.

Em 1953, quando a Petrobras foi fundada, éramos 52 milhões de habitantes e estávamos apenas iniciando os trabalhos de pesquisa do petróleo, já incluindo o trabalho do CNP (Conselho Nacional de Pesquisas) feito desde 1938, e iniciava-se o trabalho de preparação para a pesquisa no Recôncavo. 

Em 1970, a produção do Recôncavo chegou ao seu máximo, quase 170.000 bpd (barris de petróleo por dia), mas já não era suficiente para o consumo da população do país que tinha chegado a 94 milhões de habitantes, quase o dobro dos anos 50, e por isso, em 1974, a Petrobras se aventurou no mar em busca de mais petróleo. 

Abriu-se o monopólio aos contratos de risco e várias petroleiras de renome internacional vieram ajudar a Petrobras na pesquisa. Depois da aplicação de mais de 10 milhões de dólares para levantar 1000km de linhas sísmicas e furar 85 poços, as contratistas, como ficaram conhecidas, também abandonaram a empreitada de achar o petróleo brasileiro e se retiraram dela.

Em 1974, com a população do Brasil na casa de 100 milhões de habitantes, descobrimos a Bacia Submarina de Campos e tivemos um alívio nas importações de petróleo. Nossa produção cresceu, mas sempre em descompasso, a menor, com o crescimento da população, mantendo o país no estado de subdesenvolvido. A autossuficiência em combustíveis nunca foi alcançada pelo Brasil sendo esta a razão do seu subdesenvolvimento.

Em 2016, todo o esforço exploratório continua a contabilizar 2,4 milhões de bpd e já somos 208 milhões de habitantes, o que exigiria uma produção de 12,4 milhões de bpd, objetivo que jamais será alcançado pela Estatal diante dos conhecidos obstáculos como a má geologia praticada na Petrobras e o fator político que sustenta a companhia como monopolista do serviço. 

Para guiar o pensamento sobre a ciência, vamos iniciar respondendo perguntas.

O QUE É a Geologia? É a ciência que busca o conhecimento do planeta Terra, desde a sua origem até o presente, para poder aproveitá-la melhor, tanto para o trabalho como para o conforto e lazer dos seus habitantes. Mas além disso, responder as perguntas transcendentais e mostrar quem somos nós, de onde viemos, o que fazemos na Terra, e para onde iremos depois da morte. 

COMO se estuda a Terra para obter tais respostas? Foi dito antes: construindo mapas estratigráficos.

QUE profissional pode fazer mapas estratigráficos? O geólogo, desde que saiba antecipadamente – condição sine qua – o que é uma formação geológica, ou seja, ter da mesma um conceito claro e objetivo pelo fato do atual conceito ser confuso e subjetivo.

O QUE É um mapa geológico ou estratigráfico? É a representação, no papel, das diversas rochas que ocorrem na superfície do planeta, na exata ordem de seu aparecimento ao longo do tempo.

O geólogo faz mapas corretos e as riquezas da Terra, minérios e petróleo, aparecem, em seguida, como consequência e com facilidade. O geólogo não procura minas e minérios como fizeram, no passado, os bandeirantes e continuam fazendo, hoje, os garimpeiros, uma tradição que continua nas universidades.

QUAL o LABORATÓRIO do geólogo? Dizemos que o campo é o laboratório desse profissional, pois é no campo que são encontradas as formações geológicas, objeto de estudo do geólogo.

Mas no campo, devido ao tamanho das formações fica difícil compreendê-las ou estudá-las. O geólogo tem que reduzí-las ao papel em escala conveniente, construindo os mapas. Por isso há a necessidade de confeccionar mapas perfeitos.

Os pioneiros do estudo da Bacia do Recôncavo [1] trabalharam nela pelo fim do século XIX com todas as dificuldades inerentes àquela época. Não havia sensores para realizar o trabalho, nem meios de transportes, nem estradas ou qualquer tipo de infraestrutura como hotéis, pousadas, que hoje temos à nossa disposição. O trabalho deles foi extremamente difícil. Especialmente, não havia qualquer noção sobre que caminho tomar para estudar a Terra e muito menos o que fosse uma formação geológica. 

Dessa maneira foram cometidos erros, erros esses que se transmitiram por tradição e que permanecem até hoje. Esses erros tradicionais influenciaram todos os trabalhos de mapeamentos da superfície e de subsuperfície, e disso decorre uma grande confusão sobre o papel da Geologia. 

Depois de determinadas, as rochas mapeadas tinham de ser datadas, e não havia meios de fazê-lo. Só posteriormente, apelou-se para a paleontologia e outros métodos, na datação das rochas. Observe-se então a origem dos erros cometidos no Recôncavo.

Os cientistas pioneiros, do século XIX e XX, sem saber o que era uma formação geológica determinaram uma coluna estratigráfica errada. No meio do século XX, chegaram os paleontólogos e dataram a coluna existente, naturalmente de maneira errada. Resultado: confusão total.

Para ilustrar a confusão que esse tipo de datação causa vamos observar a Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo, que é oficial. Nessa Carta, os fósseis aparecem perfeitamente organizados, mas a coluna estratigráfica, chamada de “LITOESTRATIGRAFIA”, fica completamente desorganizada, inexplicável e grotesca.

Observando a figura da Carta nota-se a confusão existente na coluna da “litologia”, e que a mesma não serve de guia para qualquer coisa e muito menos para mapeamentos e, especialmente, para pesquisa de petróleo, pois as rochas estão erradamente definidas e os fósseis não servem para datar as “formações”, dificultando os mapeamentos e a pesquisa do petróleo.

Observação importante: a rocha é muito mais importante que o fóssil. A rocha data o fóssil e nunca ao contrário. A rocha é o fato maior, enquanto o fóssil é detalhe mínimo, às vezes inexistente. Foi uma ideia de ordem religiosa aparecida muito tempo atrás e não deu certo, por isso aqui será abandonada. 

Por que tanta certeza na afirmação de que há alguma coisa errada? Pelo insucesso factual. Com todos os erros praticados a bacia chegou a produzir, em 1970, mais de 170.000 barris de petróleo definhando para os atuais 30.000, em 2017. “A Bacia está senil”, dizem seus responsáveis. “Ela está é maltratada”, dizemos nós que a conhecemos sem os erros cometidos.

A nossa experiência durante os longos anos de pesquisa nos dá essa certeza. Enfim, qual é a confusão que existe na Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo? São duas, especialmente, e as outras são consequências.

1. As rochas estão erradamente definidas. 

2. Os fósseis que aparecem na Carta estão organizados. No campo, eles estão misturados, como mostraremos adiante.

Na Bacia do Recôncavo, contrariando a Segunda Lei da Sedimentação, os fósseis de idades diversas ESTÃO MISTURADOS na terceira dimensão, aparecendo fora das formações onde eram esperados, ou  seja, fósseis antigos em formações jovens e fósseis jovens em formações antigas, algo absurdo na natureza!

Os exemplos que veremos foram transcritos ipsis literis dos relatórios existentes nas pastas dos poços e podem ser verificados por qualquer pessoa nos arquivos técnicos da Petrobras.

Veremos em cada um deles que os geólogos responsáveis pelo mapeamento e acompanhamento dos poços não entendiam o resultado emitido pelo laboratório de paleontologia e disso reclamavam, chegando a provocar algumas situações desagradáveis entre os colegas.

Os paleontólogos por sua vez tentavam “acochambrar” os resultados obtidos lançando mão de teorias inusitadas.

A teoria mais usada era a dos “desmoronamentos” das paredes do poço, inventada pelos paleontólogos para justificar a mistura existente nos poços. Outra teoria dizia que a lama do poço estava contaminada por já ter sido usada para furar outro poço e de lá viera “contaminada”. Ou então dizia-se que o problema dos fósseis era devido a resíduos de lama contaminada deixados no tanque e/ou resíduos deixados em tubos de perfuração mal lavados. 

Os geólogos do campo inventavam também suas próprias teorias para justificar os resultados estranhos fornecidos pelo Laboratório. Eram inventadas falhas inexistentes, e apareceu até uma fantasiosa teoria de “diápiros” para justificar um fenômeno que continua até hoje desconhecido. Falhas, entre aspas, eram sacadas com muita facilidade na ponta do lápis.

Dessa confusão de atos falhos dos geólogos é que surgiu a atual Carta Estratigráfica da Bacia, a qual conduz a pesquisa de petróleo na Petrobras com o natural insucesso. 

Adiante mostraremos os fatos contidos nos relatórios de alguns poços construídos no Recôncavo, especialmente os paleontológicos, que apoiam a nova teoria sobre o que chamamos de Geologia Histórica ou Estratigráfica. Vale a pena dizer que os exemplos que serão citados não foram escolhidos para figurarem aqui. O fenômeno acontece em todos os poços da Bacia e podem ser verificados por qualquer interessado.